Friday, July 25, 2008

Sonhando Cruzado


Será que as pessoas apaixonadas tendem a ficar atentas a seus sonhos?

Pode ser. É que sou leitor do blog de uma atriz. É muito provável que haja planetas de casa 12. A casa 12 é a dos sonhos e dos contornos indefinidos, das imagens que desaparecem por falta de contornos, inclusive os próprios sonhos, que muitas vezes vão se dissolvendo na memória, como luzes fracas diluindo-se em penumbras.

Desde recentemente sonhei algumas vezes com a atriz. No sonho de ontem ela estava linda e dócil e com a voz doce e, sem saber, dizia-me palavras que me funcionavam como puxões de orelhas. "Você gostou de sua peça hoje?", perguntei (a atriz está em cartaz). Silêncio. Sem responder, ela vira o rosto, com os cabelos docemente sobre os ombros (e o vestido? é branco! muito leve...) e toca o nariz e os lábios, ligeiramente recurvados para dentro, na parede. O gesto é ambíguo. É, num só tempo, um beijo contido (ou pelo menos o gesto de um) e uma forma simbólica de fechar a boca, como quem dizendo "não quero falar", melhor: sem dizer mesmo. O movimento seguinte foram os lábios, abandonados aos próprios contornos que, agora relaxados, libertos pela própria doce elasticidade de lábios, se chocam com a leveza de um hálito contra a parede. Gesto muito suave, se considerado fisicamente, mas que era mais uma vez ambíguo. Sinalizava, por um lado, o gesto do beijo na parede (agora descontido e completo) e, por outro, a descarga de tensão: "tá bom, eu respondo". De fato, no momento seguinte, ela finalmente se volta novamente para mim: "Não, a pessoa que deveria falar comigo. Ela não falou".

Sem dúvida, a ambiguidade entre beijar e calar, explorada pela construção onírica (a sempre sábia e genial construção onírica!) refere-se à frase de seu blog "cala-me com teu beijo", dirigida a seu namorado, ou futuro namorado, sei lá.

Antes dela aparecer nesse sonho, eu estava na companhia de duas outras garotas. Garotas comuns, sem nada de interessante, daquelas que a gente paquera quando não tem mais o que fazer e quer distrair o tédio. Tão comuns que, a atriz, ao chegar, nem toma conhecimento de suas presenças, como se fossem efetivamente desprezíveis. Assim que acordei, depois que ela respondeu minha pergunta, pensei mesmo na sugestão de poligamia da cena: três mulheres, ainda que duas apagadas. O sonho pareceria então estar trabalhando os valores femininos em mim.

Também depois que acordei, fiquei me indagando, por qual razão ela jamais dissera de seus sonhos em seu blog. A coincidência: quando abro seu blog, lá está: ela relatando um sonho dela (!). "Como ela sabia?", perguntei. No sonho ela relatava uma espécie de prisão num programa de TV, com um senhor polígamo, com muitos filhos e querendo-a por terceira esposa.

Tanto no sonho dela como no meu, surgem três mulheres. O número três é, provavelmente, um símbolo de masculinidade, nesses dois sonhos curiosamente a imagem do três se dá, paradoxalmente, a partir de indivíduos femininos. Somente se considerássemos o homem, poderíamos fechar o vértice de um quadrado (quatro elementos).

No meu sonho não há crianças, mas no sonho dela sim. As crianças parecem simbolizar a fertilidade, possivelmente a fertilidade de projetos em sua vida. O fato do sonho te-la angustiado não significa que sejam coisas ruins, significa apenas que se trata de coisas novas surgindo e que ela conscientemente acha difícil admitir. Talvez haja algo de agressivo, embora fértil, nessa paixão da atriz ou em algum de seus novos projetos ou nova etapa em sua vida.

Há também imagens da Cultura que nos remetem à trindade diante uma figura central, por exemplo: os três porquinhos perseguidos pelo Lobo Mau ou os Três Reis Magos que vão presentear Jesus.

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