Thursday, May 18, 2006

O Verbo "amar" em Gêmeos.

Depois de bastante tempo sem escrever aqui no meu blog, motivou-me vir aqui a escrever o imperativo de uma grande rainha da minha vida: minha amiga Glauciete.

Qual é a queixa da cliente? Ela parece ter demonstrado interesse a respeito do comportamento dos homens de gêmeos.

Em primeiro lugar e antes de mais nada, quero salientar que eu não sustento a opinião de que valha a pena assumir uma escolha de amizade, confiança, namoro, casamento, envolvimento extra-conjugal, sócio empresarial ou seja o que for com base no signo zodiacal de alguém.

Não quero dizer com isso, que a consulta a um astrólogo seja algo inútil. Façamos uma analogia: se você pretende, digamos, se casar com um homem africano. Você poderia, por exemplo, consultar um antropólogo, sociólogo ou humanista que conheça bem a cultura daqueles países a fim de colher informações a respeito do que você poderia esperar de um homem africano, pelo simples fato dele ser africano, ou sei lá, italiano que fosse. Existe a possibilidade do tal sujeito possuir um caráter peculiar e atípico daquilo que se espera de um homem de África? Sim, existe. E essa possibilidade existe em maior ou em menor proporção. E isso também varia de indivíduo para indivíduo.

Vale a pena ressaltar que o fato do sujeito ser africano não determina, digamos, aquele comportamento que as mulheres brasileiras chamam, em português bem claro de "homem que não presta". No entanto, pode ser últil, por exemplo, uma mulher saber que a cultura africana não é uma cultura ocidental cartesiana. Que o africano, em geral, convive vividamente com o mundo dos espíritos em suas expressões sociais transcendentes e que essa tendência pode até diminuir nas regiões metropolitanas da África, mais contaminadas pela cultura ocidental, mas que mesmo assim costumam estar presentes e assim por diante.

Eu considero essa analogia bastante didática porque da mesma forma que a África é uma imensa comunidade com diversas línguas e dialetos, nós não devemos nos esquecer que, mesmo quando estamos num país africano específico, por exemplo, Angola, ali nós encontraremos diversas etinias africanas, diversas culturas com suas especificidades. Aliás, num país como o nosso Brasil, devemos admitir, por exemplo, que a cultura sulista do país é bastante diferente, digamos, da mineira ou da nordestina.

Ora, mas aonde eu quero chegar afinal com essa analogia? É que da mesma forma que existe a comunidade dos angolanos, dos italianos ou dos brasileiros; também existe, por assim dizer, a "comunidade" dos geminianos, dos leoninos, etc. Tanto elas existem que uma pequena parcela delas resolveram se expressar por exemplo em comunidades no Orkut.

Na comunidade dos geminianos nós encontraremos, por exemplo, proeminentes escritores tais como Machado de Assis, Fernando Pessoa, Chico Buarque de Hollanda e também o filósofo francês Jean Paul Sartre, provavelmente um dos filósofos mais literatos do século XX, autor não apenas de textos estritamente filosóficos, mas também de romances e peças teatrais e autor também de "Que est-ce que la Literature?"

O sociólogo brasileiro Fernando Henrique Cardoso, que disse que Sartre "foi o único a transformar o marxismo em algo utilizável" era também geminiano. Mas da mesma forma que nem todo brasileiro joga futebol ou, às vezes, sequer gosta de futebol, existem também aqueles geminianos que, ao contrário da fama, não possuem muitos dons verbais e nem para a escrita. Alguns geminianos que não se desenvolveram muito nessa área ainda assim podem simplesmente adorar conversar com os amigos ou, na pior das hipóteses, ser um daqueles terríveis fofoqueiros. E claro, há também os geminianos calados (que geralmente possuem a mente inquieta, de qualquer forma). Um crítico poderia acusar essa colocação de tautológica, mas aqui não é o momento de refletirmos as bases lógicas da Astrologia.

Mas a função geminiana não se reduz à fala. Os transportes em geral e, em particular, o transporte de idéias também é responsabilidade desse signo e talvez seja por isso o seu prazer de literalmente "levar e trocar" informações, nem que sejam as famigeradas fofocas. São vários os jornais e manuais que afirmam que gêmeos é o jornalista do zodíaco: gosta de se informar e de informar os outros. Para André Barbault, notável astrólogo francês do século XX, gêmeos pode ser um excelente mediador entre os cargos mais subalternos de uma empresa e os postos mais elevados.
Esse comentário de Barbault faz-me lembrar, por exemplo, Machado de Assis, que, sendo de origem negra, em pleno século XIX, e filho de uma lavadeira, jamais frequentou a escola (sua mãe lhe ensinou as primeiras letras), mas mesmo assim teve contato com o poder político após a ascensão de sua carreira e tornou-se, na opinião de alguns, o maior de todos os romancistas brasileiros.

E há de fato um simbolismo reconhecível nisso: Hermes, o deus grego tradicionalmente associado ao signo era o responsável pela comunicação entre os deuses gregos e entre os deuses e os homens.

Há uma estrutura importante nesse simbolismo: a bipolaridade, isto é, a existência de dois mundos distintos e, muitas vezes, dramaticamente antagônicos que o geminiano precisa colocar em contato. Essa bipolaridade é algo tão profundo na natureza do signo, que, na roda zodiacal, ele é simbolizado exatamente pelo símbolo do duplo: os dois irmãos gêmeos, ou seja, aqueles que se parecem o mesmo ser, mas não podem ser um só. A tradição afirma que gêmeos é o astuto mediador, aquele que consegue dar "um jeitinho" para se equilibrar entre duas posições que pareciam irreconciliáveis. Obviamente, para transitar entre mundos estranhos entre si, gêmeos precisa ser livre.

A meu ver, um dos casos mais dramáticos e assombrosos dessa liberdade do geminiano são os heterônimos de Fernando Pessoa, que foi um poeta simultaneamente místico, cético e ateu; para ele "o poeta é um fingidor que finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente". Pessoa chega mesmo a afirmar que o Hamlet de William Shakespeare possui uma existência tão real, quanto qualquer um. E com isso ele se questiona: afinal o que é existir? O que é o real? "Ser ou não ser: eis a questão..."

Liz Greene é bastante eufêmica quando em seu livro, Os Astros e o Amor, afirma que gêmeos é "uma borboleta" que precisa voar ao vento. Por outro lado, Barbault é muito mais dramático quando afirma que gêmeos é incapaz de assumir compromissos, como uma criança. Liz Greene é mais uma vez mais otimista ao afirmar que "gêmeos é como uma criança, mas eles de fato não são crianças". Greene vai dizer que eles sentem como crianças, que eles amam como crianças porque a estrutura intelectualizada do signo tem muita dificuldade de apreender de forma inteligível as nuances irracionais do amor, mesmo que gêmeos tenha fascínio pelo mundo irracional não é ali que ele se sente à vontade. Eles não conseguem encaixar o amor dentro de um conceito racional de tal forma que possa fazer parte de sua estrutura lógica maior. E isso os assusta muito. E os fascinam.

A visão que Barbault traz de gêmeos já não é muito animadora no campo amoroso, onde ele pinta um verdadeiro talento para a falta de compromisso. "Quando gêmeos diz que ama uma mulher, ele está sendo sincero; o problema é que assim que ela sai da sua frente, ele esquece que ela existe". Para Barbault, o mundo é colorido e interessante demais para gêmeos se ater num lugar só. Para ele, também a mulher de gêmeos é capaz de se apaixonar rapidamente e de se entregar totalmente numa voraz e apaixonada noite sexual. E depois esquecer tudo no dia seguinte. "A mesma facilidade e rapidez que gêmeos se sensibiliza e atinge o máximo da excitação emocional é a mesma facilidade e rapidez com que ele se resfria e esquece", diz Barbault. A mulher de um homem de gêmeos, diz Barbault, precisaria de muita paciência para educar sua mente infantil e irresponsável. Para ele, mesmo que gêmeos consiga não ser infiel, ainda seria quase incurável a sua necessidade compulsiva de flertar.

Liz Greene, por sua vez, descreve esse traço de maneira bastante mais eufêmica, dizendo que numa festa é muito difícil manter um geminiano num lugar só e que todas as pessoas são interessantes e fascinantes demais para ele, tudo é motivo para atiçar a sua curiosidade.

Mas para mim, a diferença mais importante entre Liz Greene e Barbault a respeito dessa discussão amorosa é que Greene vê em gêmeos duas possibilidades de lealdade:

1) Quando gêmeos mergulha em seu amor infantil que, segundo ela, costuma ser puro autêntico como o de uma criança (e cheio de birras infantis também quando são contrariados, como as crianças, diz ela).

2) Quando o intelecto de gêmeos está impregnado de um conceito e de um valor monogâmico. Pois, segundo ela, os signos do elemento Ar levam muito a sério seu mundo de conceito e de idéias. Afinal, esse é o mundo no qual eles vivem.

Fernando Pessoa, por exemplo, segundo alguns biógrafos, amou uma única mulher em sua vida, a única com quem quis se casar e que ele desgraçadamente não conseguiu inseri-la em seu mundo louco. Tentou por duas vezes e falhou nas duas.

No mais, encerro essa breve análise reiterando que:

a) O conhecimento astrológico, embora tenha um corpo dogmático tradicional, ainda é suscetível de diferentes visões e não é um conhecimento dado e nem pronto, ao menos não completamente.

b) Minha analogia inicial. Isto é, o fato de que pode-se falar abstratamente do que é "ser brasileiro"; mas que no momento singular em que tomamos um brasileiro ao acaso, ele pode não gostar de futebol, pode nunca ter sambado na vida, pode não gostar de café e, provavelmente, isso não fará dele menos brasileiro. Também podemos falar abstratamente do que é "ser geminiano", mas não devemos nos esquecer disso: cada indivíduo é um indivíduo, mesmo que possuam mapas astrologicamente idênticos.

c) Gêmeos pode se expressar de diferentes forma num mapa astrológico. E não apenas no signo solar. As possibilidades mais conhecidas são o Ascendente e a Lua, apenas para citar dois exemplos.

4 comments:

Anonymous said...

Henrique,
Só posso concordar com sua colocação.
Afinal, é muito recente essa insistência sobre o signo solar das pessoas que se deve à massificação comercial da astrologia e á aparição de livros sobre cada signo, o que poderia aparecer como uma heresia, se a astrologia fosse uma religião.
Abraço
Guy

Anonymous said...

Oi Henrique vc ja visitou meu blog novo?

http://livrosesonhos.blogspot.com/
Ainda preciso me dedicar mais aos textos e preciso ler mais seu blog para aprender mais sobre astro.
Beijos
Otimas semana

Anonymous said...

Quando gêmeos mergulha em seu amor infantil que, segundo ela, costuma ser puro autêntico como o de uma criança (e cheio de birras infantis também quando são contrariados, como as crianças, diz ela).

2) Quando o intelecto de gêmeos está impregnado de um conceito e de um valor monogâmico. Pois, segundo ela, os signos do elemento Ar levam muito a sério seu mundo de conceito e de idéias. Afinal, esse é o mundo no qual eles vivem.

Excelente esse comentário essa concepção que vc atribuiu a Liz Greene, como vc sabe eu mesma tenho experiencia com duas geminianas marcadas pela fidelidade incondicional que eu facilmente atribuo a expressõ de lealdade 20 conforme vc escreveu.
Beijos
Priscilla

P.S: O anonimo de cima sou eu desculpe

Anonymous said...

Você atualiza o blog com tanta freqüência, que poderia estudar em quais conjunções astrais você consegue escrever um post.