Wednesday, December 17, 2008

Mens in Corpore... Leituras da Mente.

.

.
Lembro de uma palestra que o físico brasileiro Moysés Nunssenzveig (mais conhecido pelos seus livros didáticos publicados em letra de mão...!) proferiu no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP. Lotado. Se não me falha a memória ele falou também da extraordinária complexidade da Física das nuvens, mas enfim... não é meu ponto agora.

Estou certo do seguinte: ele havia opinado nessa palestra que uma das grandes áreas de pesquisa da Física do século XXI seria a investigação do cérebro. Desde criança, sempre me fascinou a possibilidade de se construir uma máquina capaz de ler as imagens dos sonhos e da imaginação.

Acabei de ler uma matéria sobre isso na Internet. É a primeira vez que leio a respeito de cientistas que obtiveram resultados nesse sentido:


Os cientistas esperam que a pesquisa, publicada na revista científica Neuron, dos Estados Unidos, venha a ajudar pessoas com problemas de fala ou médicos que estão estudando problemas mentais, ainda que existam questões de privacidade a considerar caso a situação chegue ao estágio em que alguém poderia ler os sonhos de uma pessoa adormecida.


--------------------------
Fonte da Notícia:

http://br.tecnologia.yahoo.com/article/17122008/5/noticias-tecnologia-voce-olhando-cientistas-japoneses.html


Diretor de Pesquisa do Projeto:
Yukiyasu Kamitani, do Advanced Telecommunications Research Institute International, um instituto privado sediado em Kyoto, Japão

--------------------------

De acordo com a matéria, os cientistas conseguem, através de varredura, e a partir das correntes elétricas do cérebro, inferir imagens de um objeto que um sujeito (ou talvez fosse melhor dizer "indivíduo"?) observa.

Achei esse resultado espetacular. Sempre me fascinou esses problemas de percepção em Física. Fernando Pessoa certa vez escreveu:

"Pois o que é tudo?
Senão o que pensamos de tudo?"

De fato, a Física é incapaz de distinguir entre o verde ou o vermelho, exceto enquanto faixas estabelecidas de freqüências, sem nenhuma fronteira especial entre elas, a não ser a própria convenção da percepção do próprio ser humano. Ou seja: do ponto de vista físico, a cor em si, não existe.

Os índios tupis possuíam a mesma palavra para "verde" e para "azul". Será que eles percebiam essas cores de forma diferente de como nós as percebemos? E os esquimós com aquela famosa e tão repetida história das percepções da cor branca?

Sabemos hoje que a luz é uma perturbação do campo eletromagnético no espaço. E que no fim das contas tal perturbação é decodificada em correntes elétricas no cerébro. O que os cientistas da matéria acima conseguiram fazer foi (a meu entender): detectar as oscilações elétricas cerebrais, recodificando-as em impulsos elétricos fora do cérebro para um computador que, naturalmente, poderia reconverte-las em novas ondas eletromagnéticas no espaço (como essas que saem do seu monitor agora, caro leitor), ou seja: novas imagens.

Em outras palavras: aos objetos reais correspondem ondas eletromagnéticas refletidas que são convertidas em impulsos elétricos no cerébro que, de alguma forma, o cérebro faz corresponder a imagens. Ora, se os cientistas japoneses conseguem inferir esses sinais elétricos no cérebro, podem converte-los novamente em perturbações eletromagnéticas para nossos olhos que serão novamente interpretadas como imagens, mas agora na mente de outra pessoa e assim a pessoa vê o que a outra viu e, potencialmente, poderá ver o que a outra pessoa sonha ou pensa.

Mas o que eu acho mais fascinante disso tudo é o seguinte: nada disso, nenhum desses estudos, são capazes de sondar o mistério de como o cérebro transforma o sinal elétrico das imagens de nossas mentes. Em outras palavras, tudo o que os cientistas japoneses dessa matéria fizeram, foi conseguir manipular uma informação elétrica dentro do cérebro, mas não creio que eles tenham ainda tocado no mistério da origem das imagens na mente.

Mens in Corpore...

No campo da Filosofia, acho que Espinosa nos permitiria pensar de forma muito interessante a respeito, devido a sua concepção do Homem como expressão de dois dos infinitos atributos de Deus e de sua famosa proposição 7 da parte II de sua obra máxima, a Ética, acerca da ordem e da conexão das coisas e das idéias.

Aliás, Espinosa trabalhava como fabricante de lentes... O que me parece algo bastante significativo.

Jung também escreveu coisas interessantes a respeito da percepção visual: acerca de uma independência entre órgãos visuais e percepções visuais e de possíveis relações acausais entre ambos. Várias idéias acerca de acausalidades é realmente uma das marcas da obra junguiana.

Nunca li as reflexões de Goethe a esse respeito, nem as de Newton. Já ouvi dizer que Darwin também ficou bastante fascinado pelos olhos humanos, mas não faço idéia acerca de quê ele poderia ter refletido a respeito, exceto de seu deslumbramento diante da possibilidade de um processo evolutivo produzir algo tão maravilhoso.
.
Abaixo desenho atribuído a Leonardo da Vinci, acerca de estudo a respeito da anatomia do Olho.
-------------------

No comments: